Por Celso Paiva (*)
Com a pseudo cultura brasileira, baseada na Lei de “Gerson” (jogador de futebol/garoto propaganda de uma marca de cigarros, cuja campanha publicitária se baseava na malandragem brasileira de tirar a melhor vantagem de tudo e de todos) vem, o mercado segurador, convivendo e sofrendo com a “fraude branda”.
Fraude é um substantivo que está presente em qualquer setor ou atividade. Basta o ser humano estar presente numa ação, para que haja a oportunidade da ocorrência de uma fraude... mesmo que existam leis, conceitos sociais, regras de boa convivência, punições, entre outros fatores que nos guiam socialmente. E para as maiores e mais gritantes fraudes, quando descobertas, há sempre um processo penoso, desgastante, prolongado e quase sempre alardeado.
Mas não é dessa Fraude, que não é rara, mas que também, de um jeito ou de outro, mesmo causando prejuízos, é passível de punição e de criação de mais dispositivos para tentar inibi-la em eventos futuros, que estou falando. Esta modalidade de fraude vai estar sempre presente e sempre será vigiada para que não ocorra, pelos mais diversos meios e artifícios de coibição.
O que desgasta e incomoda em proporções talvez mais danosas é a outra, denominada aqui de “Fraude Branda”... não necessariamente apelidada “de” ou conhecida “como”... Para uns, “fraude de oportunidade”, para outros, “ fraude oportunista”... “fraude de momento”... por aí vai...
Ela está presente na nossa cultura ainda pouco desenvolvida, na sociedade de um país do futuro (será que um dia ele chegará?), atualmente emergente (e recentemente em vias de deixar de sê-lo , pena!) e não combatida com veemência social.
É aquela, presente na mentirinha “inocente” (existe?) no preenchimento dos questionários de perfil dos usuários; na simulação de colisões de trânsito, para consertar o veículo de um “chegado” sem recursos, utilizando o seguro contra danos a terceiros; o ato de assumir uma culpa que não é da pessoa, mas que para se livrar do incômodo jurídico, fica mais “fácil” passar o ônus para a seguradora; o exagero nas listas de reclamações dos itens sinistrados numa residência, quando a seguradora abriu mão da lista prévia de bens existentes... e muitas outras, que paro por aqui na citação delas, para não cansar e até mesmo, por não conhecer todas e muito menos as que virão com o aperfeiçoamento constante do crime brando (existe?) de enganar o outro para tirar vantagem do mesmo . Viva o Gerson!
É com estes pequenos grandes prejuízos que o mercado segurador convive hoje, e sempre... e amarga resultados que poderiam ser muito melhores para nós e para o consumo dos nossos produtos, se não fosse esta cultura pobre, subdesenvolvida, que permanece e se prolifera na nossa pobre sociedade tupiniquim...
Quando deixaremos de ser este povo escondido na alegria do bem e bom viver? do samba? do futebol? da novela das nove? dos protestos brandos (ah! estes existem, sim!)? da ignorância coletiva? e da falta de vergonha em proceder desta maneira pequena de tentar tirar uma “vantagenzinha” em tudo?
A resposta é simples e repetida : falta cultura! Geral e irrestrita! Em todos os setores... e no nosso, também!
Falamos de nós para nós mesmos... usamos termos nossos, internos do nosso mercado e nos comunicamos mal com a sociedade.
Temos como desculpa própria a existência desta cultura “gersiniana”: não podemos abrir a guarda pois o consumidor vai nos fraudar brandamente... não podemos ser claros... não podemos negar cobertura nestes casos, não há provas...não há punição para este tipo de “crime”... não podemos...não devemos...
Podemos sim! Devemos sim! Desde que nossa comunicação com o mundo externo ao nosso clubinho fechado, seja informar bem, claramente sobre os nossos princípios, sobre as bases do nosso negócio, do nosso retorno à sociedade, da mutualidade da nossa atividade e que quanto mais tirarem proveitos errôneos do seguro, mais o consumidor será prejudicado com e por tudo isso.
Acabo de assistir a um espetáculo musical em homenagem a um comunicador de massa e sua frase perpetuada: “Quem não se comunica, se trumbica!”
E portanto arremato este pensamento: falta divulgação institucional do nosso mundinho! Falta investimento na cultura social e específica no nosso país. Culpa só do nosso governo? Da sociedade? Claro que sim e que não! Mas poderíamos começar arrumando o nosso quintal, depois a nossa rua, o bairro...
Para combatermos a falta de conhecimento dos nossos produtos, só divulgando, e muito, todos eles! Quem compra e quem vende têm que conhecer o que compra e o que vende!
Contra a fraude branda, CULTURA !
(*) Celso Paiva é Diretor da Alfa Seguradora.
Fonte: Artigo publicado originalmente na revista Opinião.Seg nº 10, Maio de 2015, página 6.