Por Antonio Penteado Mendonça
Em todo o mundo, no período de férias as pessoas bebem mais, são mais imprudentes, entram em aventuras, correm mais riscos e o resultado é o aumento de acidentes.
Todo ano é a mesma coisa, no Brasil e no mundo. Nas férias de verão há o aumento da sinistralidade, ou seja, as seguradoras pagam mais indenizações do que nas outras épocas do ano.
O fenômeno é lógico. Nas férias as pessoas se soltam, fazem o que não estão habituadas a fazer, bebem mais, são mais imprudentes, entram em aventuras, correm mais riscos. O resultado é o aumento do número de acidentes. A regra vale para o mundo inteiro.
A consequência direta é o aumento do número de avisos de sinistros protocolados nas seguradoras e um maior desembolso a título de indenizações para os eventos cobertos. Mas que tipos de eventos chamam a atenção pelo ineditismo ou pela frequência atípica registrada em pouco mais de dois meses?
O primeiro, evidentemente, é o acidente de trânsito. Nos meses de férias eles aumentam em relação ao resto do ano e este aumento tem como consequência o aumento da sinistralidade da carteira. Mas os veículos, nos meses de verão, são vítimas, também, de fenômenos naturais, especialmente as tempestades, que também impactam no desempenho das seguradoras. Além disso, não há folga para os roubos.
Se os acidentes de trânsito não causam surpresa, alguns deles, principalmente nas estradas, causam horror em razão da violência e do estado dos veículos envolvidos. Entre as causas, duas merecem destaque: motoristas sem experiência em dirigir em rodovias e o aumento do consumo de bebidas alcoólicas no caminho da praia ou da casa de campo.
O triste é que os acidentes de trânsito, além de matarem, deixam um enorme número de pessoas com sequelas mais ou menos sérias para o resto da vida. Como a maioria das vítimas é jovem, o custo delas pode ser exponencialmente elevado, indo muito além das indenizações pagas pelo DPVAT, o seguro obrigatório de veículos automotores terrestres, que indeniza anualmente perto de 40 mil mortes e mais de 200 mil casos de invalidez permanente.
Grande parte dos inválidos acaba dependendo da Previdência Social, que arca com uma conta elevada para sustentar as vítimas dos acidentes de trânsito e invariavelmente suas famílias.
Mas não são apenas os acidentes de trânsito que cobram seu preço durante as férias. Os casos de afogamento se multiplicam no período e é comum acontecerem porque pessoas com pouca prática de mar não só se aventuram em águas que não conhecem, como o fazem depois de beber algumas caipirinhas ou duas ou três cervejas.
Aumentam também acidentes com motos aquáticas, com embarcações de recreio, com as escunas e barcos que fazem cruzeiros com turistas sem nenhuma intimidade com ondas, costeiras e a própria embarcação.
E aumentam os acidentes com bicicletas, patinetes, triciclos, patins e skates. Aumentam os acidentes em trilhas, matas, lagos, represas e rios. Aumentam os acidentes dentro de casa. Aumentam os acidentes porque aumenta o consumo de bebidas alcoólicas. E por aí vamos, numa lista quase infindável de possibilidades que se acentuam em razão das características da vida nos meses de verão.
Mas além dos acidentes com pessoas, aumentam os casos de assaltos a residências que ficam fechadas e sem ninguém enquanto a família viaja. E aumentam os assaltos nas regiões de veraneio. Aumentam nas ruas das cidades e aumentam nas trilhas e pontos turísticos, entre eles as praias, onde é fácil fazer um arrastão e sumir rapidamente antes da polícia chegar.
As seguradoras sabem disso, no Brasil e no mundo. Não há nada de novo embaixo do sol e a rotina se repete ano depois de ano, então elas, além de se prepararem para agir com mais frequência, conseguem, também, realizar ações de propaganda e marketing utilizando as situações negativas típicas dos meses de férias como chamariz para campanhas destinadas a reduzir o número de acidentes.
Ninguém discute, o seguro existe para indenizar o segurado pelos prejuízos que ele venha a sofrer em função da ocorrência de eventos cobertos. É aí que está o ponto. O seguro minimiza prejuízos, mas não evita acidentes, nem garante férias sem problemas. Isso depende somente de cada um de nós.
Fonte: O Estado de S. Paulo, em 31.12.2018.