Por Antonio Penteado Mendonça
A saída de Jayme Garfinkel da Presidência do Conselho de Administração da Porto Seguro pode ser lida de várias formas. Se algumas são alegres, outras são tristes, mas todas têm um final positivo, seja na análise de sua carreira, seja no legado deixado para o mercado.
Com mais ou menos quarenta anos de atuação profissional no setor de seguros, Jayme Garfinkel e o que ele fez deve ser estudado e entendido como um dos cases mais bem-sucedidos da atividade.
Até o começo da década de 1980, o setor de seguros brasileiro focava essencialmente seguros de incêndio, lucros cessantes, transportes, vida e acidentes pessoais. O seguro de automóveis existia, mas estava longe de ser uma carteira em que as principais seguradoras colocavam suas fichas. Era um produto marginal, consequência obrigatória de aceitar os riscos ditos nobres, elencados acima.
Jayme Garfinkel é o responsável pela mudança radical que colocou o seguro de veículos como a principal carteira de seguros de ramos elementares e uma das mais importantes para a grande maioria das seguradoras em operação no país.
Jayme é o herdeiro de uma companhia de seguros criada por seu pai. Com a morte do pai, Jayme assumiu a companhia e deu início à grande revolução da atividade. Em poucos anos, os seguros selecionados e sofisticados, que não permitiam ao mercado ir além de zero ponto alguma coisa do PIB nacional, deram lugar aos seguros massificados, puxados pelo seguro de automóveis, novo carro chefe do segmento, que, em menos de 20 anos, fez a participação do setor saltar para mais de 5% do PIB.
Na base desta história está a Porto Seguro, incialmente uma pequena companhia com pouca capacidade de concorrer com as seguradoras tradicionais, mas que, em cima do seguro de veículos, em alguns anos se transformou numa das mais importantes seguradoras brasileiras.
Já na segunda metade da década de 1980, o seguro de veículos começa a se destacar e chamar a atenção das grandes seguradoras da época. A concorrência rapidamente se acirra, mas a solução inovadora, que a mantinha na frente das demais, invariavelmente era colocada no mercado pelos profissionais da Porto Seguro.
Foi assim que as apólices começaram a incluir serviços de interesse dos segurados em adição às coberturas do seguro. Primeiro foi o guincho, depois o atendimento de panes, trocas de pneus, chaveiro, assistência residencial, etc. Ao longo do caminho, atualmente pavimentado e quase que integralmente preenchido, a Porto Seguro sempre se destacou, inclusive introduzindo pequenos diferenciais, como o sanduiche e o refrigerante que em determinadas épocas seus guinchos e carros de socorro levavam para os segurados assistidos.
Pode parecer bobagem, mas a quantidade de mensagens e telefonemas que eu recebia elogiando os pequenos detalhes do atendimento da seguradora é um exemplo da capacidade de fidelização dos clientes, além de abrir portas para milhares de outros contratarem seus seguros na Porto Seguro.
E nos anos de alta inflação, a Porto Seguro se destacou pela criatividade para receber os prêmios com o valor da moeda preservado e aí surgem os cheques pré-datados que durante tantos anos foram utilizados para pagar as apólices de praticamente todo o mercado.
Depois do Plano Real, já consolidada como uma das grandes seguradoras nacionais, a Porto Seguro continuou inovando e lançando produtos como telefone celular, cartão de crédito, consórcio, etc.
Ao longo dessas décadas, Jayme Garfinkel esteve sempre presente na ponte de comando, conduzindo sua seguradora com braço firme e olhos aguçados, entendendo as marés, os ventos favoráveis e as tempestades, sabendo desviar dos abrolhos e encontrar o Porto Seguro que dá nome à companhia.
Sua saída acontece seis meses depois da publicação de um dos melhores balanços do setor de seguros, num momento complicado, criado pela crise brasileira.
Ninguém duvida, a companhia que ele deixa está mais do que apta a seguir sua jornada vitoriosa, dirigida por profissionais altamente qualificados e capazes de dar conta da tarefa.
Com sua saída se encerra um dos capítulos mais ricos da história do seguro brasileiro.
Jayme, você fará falta ao mercado e fará falta especialmente para mim, que, ao longo das décadas de convívio comum, tive em você um interlocutor diferenciado e um amigo extremamente leal.
Boa sorte na sua nova jornada!
Fonte: SindsegSP, em 07.06.2019.