Por Antonio Penteado Mendonça
É carnaval. As pessoas estão mais interessadas no feriado e na festa. Não é hora de pensar em acidentes e muito menos de discutir balanços de companhias. Exceto os fanáticos, os acionistas e, eventualmente, algum CEO mais preocupado com o futuro da empresa - ou seu futuro dentro da empresa –, não é de se imaginar muita gente sentada na mesa de trabalho ou verificando gráficos, publicações, instruções técnicas ou outro documento no gênero.
Não, a hora é de pular feito louco, deixar a energia extravasar, o stress se transformar em animação, sair atrás do trio elétrico, se esbaldar, com ou sem cerveja gelada, esquecer que a vida pega pesado e que no resto do ano as pessoas trabalham, atrás do pão nosso de cada dia, que nem sempre chega fácil e com certeza não cai do céu. Mas a vida não é feita só de carnaval. Vários outros fatores influem no dia a dia de todos nós, com mais ou menos força, para o bem ou para o mal.
É carnaval, mas as pessoas continuam nascendo e morrendo com a frequência de sempre. Aliás, no carnaval o número de acidentes aumenta e, consequentemente, ainda que nem todos percebam, aumenta também o número de internações hospitalares, mortos e feridos. O carnaval pode começar mais ou menos animado. Fatores externos influenciam nosso humor e nos deixam de bem com a vida ou desanimados, tanto faz se tem carnaval, tanto faz se tem feriado.
Boas notícias são um acelerador e, se essas boas notícias nos atingem diretamente, aceleram mais ainda. É o caso dos resultados apresentados pelas empresas de um determinado setor econômico. Bons balanços querem dizer bons prognósticos para o ano que começa. Isso mesmo. Estamos em março, mas, tradicionalmente, o ano brasileiro começa depois do carnaval. Ou seja, ao longo da semana. As seguradoras, seguindo a lei, acabam de publicar seus balanços. Tem um pouco de tudo, o que é normal em qualquer atividade econômica. Tem sempre os que vão bem, os que não vão tão bem e os que vão mal.
O setor não fugiu da regra e, como o ano foi um ano complicado, os balanços refletem as decisões tomadas ao longo dele e seus impactos nos resultados individuais das companhias. Várias seguradoras tiveram desempenho muito interessante e francamente positivo. Seus balanços são sólidos e consistentes e as explicações fazem sentido, refletindo medidas que transformaram oportunidades em decisões acertadas, que desaguaram em negócios com bons resultados. A leitura dos balanços mostra que, com exceção de seguradoras focadas em nichos especiais, as demais seguradoras de seguros gerais continuam com forte dependência do seguro de automóveis.
O fato em si não é bom nem ruim. A forma como o negócio é feito é que interfere no resultado da companhia. De todo jeito, o desenho da produção média das companhias mostra a fraca penetração dos demais ramos de seguros gerais. Pode parecer incrível, mas é uma boa notícia. Significa que o setor tem forte potencial de crescimento, se conseguir quebrar o paradigma atual e comercializar uma série de produtos já existentes.
As “pizzas” e os gráficos mostram boa parte das seguradoras com os seguros de veículos responsáveis por mais da metade da produção. Se elas mantiverem seus seguros de veículos, mas intensificarem a venda de outros tipos de seguros mais ou menos simples, elas podem crescer rapidamente, aumentando o faturamento e melhorando os balanços positivos referentes ao ano de 2018. Há espaço para todos os tipos de apólices, começando pelos seguros residenciais, passando pelos seguros empresariais pequenos e médios, seguros de transporte, de responsabilidade civil e rural, para ficar apenas nos mais conhecidos.
A grande questão é como mudar o paradigma. E as respostas para isso não são fáceis, mas vamos deixá-las para depois do carnaval. Agora, basta a comemoração dos bons resultados para animar o carnaval.
Fonte: SindsegSP, em 01.03.2019.