A economia global começa a dar sinais de recuperação e deve crescer 2,2% este ano, tendo como carro-chefe as economias emergentes, como o Brasil. A previsão é da Coface, líder global de seguro de crédito e pioneira em serviços de informações comerciais, em seu estudo “Barômetro – Risco País e Setorial” referente ao 2º. trimestre deste ano, realizado em 162 países.
A Coface elevou em 0,3 ponto percentual a previsão de crescimento mundial em 2023, na comparação com o trimestre anterior. Para 2024, a estimativa é que os países emergentes devem acelerar, com alta de 3,9% -- maior nível de expansão desde 2018, embora permaneçam muito menos dinâmicos do que na década de 2010, que registrou crescimento médio de 4,9%. Será um contraponto ao desempenho das nações mais ricas, que deverão ter recuo de 1% para 0,9%.
De acordo com o estudo, embora os dados sejam um alento ainda há pouco espaço para falar em euforia: “A perspectiva econômica continua estreitamente ligada às tendências de inflação e à resposta dos bancos centrais, e nossas previsões estão sujeitas a diversos riscos negativos, incluindo o fornecimento de energia e crédito”.
Em relação aos emergentes, o Barômetro Risco País e Setorial da Coface aponta como principal impulsionador a recuperação gradual da economia chinesa, que beneficiará os exportadores de commodities. Além disso, o bloco se beneficiará também da pausa no ciclo de aperto monetário do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos
No entanto, segundo o estudo, “é importante ressaltar que o aperto das condições globais financiamento colocou muitos países em risco de inadimplência. O Egito foi rebaixado em 2022 e Gana em fevereiro passado. Seguindo essa mesma linha, foram rebaixados também o Quênia e a Bolívia neste trimestre”.
Riscos e desafios
Quanto ao risco-país, a Coface fez em seu levantamento 13 revisões de melhorias e 2 revisões de queda, além de 26 alterações em suas classificações setoriais (13 reclassificações e 13 rebaixamentos). A companhia considera que essas revisões mostram uma melhoria nas perspectivas, mas em um ambiente ainda muito exigente e incerto.
O Brasil teve sua classificação de risco como “razoavelmente elevado”, igualando-se na América do Sul a Peru e Colômbia e ficando atrás de Uruguai e Chile, ambos com risco “razoável”, e à frente de Argentina e Bolívia (“muito elevado”).
O Barômetro da Coface analisa também o risco de 13 setores da economia de cada país e nessa parte do levantamento o Brasil teve risco médio nos segmentos Agroalimentar, Energia. Papel e Farmacêuticos; “risco médio para alto” no setor Químico; “alto” para Automotivo, Construção, Tecnologias de Informação e Comunicação, Metais, Transporte e Madeira; “alto para muito alto” em Varejo; e “muito alto” em Têxtil/Vestuário.
El Niño e o açúcar
Os economistas da Coface alertam também para os preços da commodities agrícolas, que permanecem no centro do jogo geopolítico: “O fornecimento de grãos é claramente parte da estratégia coercitiva de Vladimir Putin. Esta alavanca - formalizada pela criação de um corredor marítimo no Mar Negro, estabelecido por um acordo tripartido entre Kiev, Moscou e Ancara, sob a égide das Nações Unidas - está destinada a perdurar enquanto durar o conflito. O acordo, que é muito frágil, uma vez que a decisão de o prorrogar é tomada de dois em dois meses, de fato confirma a pressão sobre as cadeias de abastecimento mundiais de cereais”.
Outra ameaça para o setor agroalimentar, alerta o estudo da Coface, são os problemas climáticos, que aumentam a volatilidade dos preços desses produtos: “No hemisfério norte, os atuais períodos iniciais de calor intenso e o significativo déficit hídrico afetarão a produtividade dos cereais até o final do ano (trigo, milho). Além disso, a probabilidade crescente (maior que 80%) de um evento El Niño a partir do 3º trimestre de 2023 só aumentará a pressão sobre as commodities agrícolas. Em termos concretos, a produção de várias commodities agrícolas (açúcar, óleo de palma, cereais) será afetada a partir do final de 2023.
Neste contexto, o levantamento da Coface lembra que os preços das matérias-primas agrícolas deverão voltar a subir, como é o caso do açúcar: “Na verdade, o açúcar engloba todos os riscos atuais: está sujeito a restrições de exportação por grandes produtores, como a Índia, em um momento em que os preços do petróleo Brent (embora tenham sido mais baixos nos últimos meses) estão apoiando a demanda por açúcar para produzir bioetanol, e as previsões meteorológicas estão aumentando a incerteza sobre os níveis de produção em 2023 pelos maiores produtores do mundo (Brasil, Índia, UE)”.
Fonte: Tamer, em 26.06.2023