A transição energética tem o potencial de impulsionar as relações comerciais entre a América Latina e os Estados Unidos este ano. A constatação é da Coface, líder global de seguro de crédito e pioneira em serviços de informações comerciais, que apresentou amplo estudo sobre a situação dos EUA e seus impactos para a economia dos países latino-americanos.
De acordo com Patricia Krause, economista para a América Latina da Coface, a região tem a vantagem de ser um continente rico na produção de matérias primas demandadas para a transição energética (tais como o lítio e o cobre) e tem o potencial de atrair interesse dos Estados Unidos. Além disso, o continente conta também com uma matriz energética relativamente limpa.
Em sua apresentação, a economista lembrou que, além disso, os latino-americanos contam com a proximidade geográfica com os EUA e têm relativa calma geopolítica, itens que os habilitam a ser parceiros de destaque na estratégia de "near/friedshoring" (prática de negócios em se adquire produtos e serviços e se estabelecem parcerias com países próximos geograficamente e/ou com relações amistosas).
"Os países da América Latina devem aproveitar as vantagens trazidas por essas oportunidades", afirmou Patricia Krause. "Não se deve esquecer, no entanto, que o resultado das eleições nos Estados Unidos pode influenciar as tendências".
Já Ruben Nizard, economista da Coface na América do Norte, destacou também que a inflação tem apresentado uma queda nos Estados Unidos, atingindo uma taxa anual de 3,2% em fevereiro, mas que ainda está acima do nível desejado de 2%. Com isso, a previsão é que o Federal Reserve só comece a cortar a taxa básica de juros em meados deste ano.
Por outro lado, lembra Nizard, a economia norte-americana apresenta números encorajadores, como o impulso ao consumo proveniente do excesso de poupança das famílias, que continua em níveis elevados mesmo depois de ter caído de um pico de US$ 2,2 trilhões em meados de 2022 para menos de US$ 700 bilhões. Além disso, o
consumo deverá continuar a crescer com a resiliência demonstrada pelo mercado de trabalho.
Patricia Krause destacou na apresentação que, apesar das perspectivas positivas, existe a tendência de redução do ritmo de crescimento econômico na América Latina: " O Brasil deve crescer 1,7% este ano, em comparação com os 2,9% de 2023, situação que se repete por exemplo no México, com aumento do PIB previsto de 2,5% (contra 3,2% no ano passado). E há também a contração na Argentina, que deve ter queda 2,5%, depois do recuo de 1,6% em 2023".
O ritmo menor de crescimento deve acontecer também nos Estados Unidos e na China, que são os dois maiores mercados para exportação dos países latino-americanos. Segundo o estudo da Coface, há ainda o impacto na América Latina das taxas reais de juros, que continuam elevadas apesar de os bancos centrais, em geral, apresentarem a tendência de continuar reduzindo as taxas básicas.
Em sua apresentação, Patrícia Krause recordou também que os Estados Unidos são o país que mais faz investimentos diretos da América Latina e que essa participação vem crescendo, passando da fatia de 26% do total no período 2015-2019 para 38% em 2022
Fonte: Tamer, em 25.03.2024