O mundo está sendo agredido no mais alto grau pelo vírus COVID-19. O início das medidas de contenção e combate à epidemia criaram situações bastante difíceis. Com a evolução da doença sua propagação geométrica claramente demonstrada – governos começaram a entender a importância e seriedade da sua contenção, malgrado posições de líderes ignorantes e irresponsáveis tentando demonstrar que há exagero e histeria com relação à pandemia.
É de reconhecer que tanto a própria epidemia quanto suas tratativas consequentes tem efeito direto em todas as atividades econômicas e financeiras do mundo inteiro. Todos os continentes, hoje, já foram atingidos pela pandemia e, dessa situação generalizada, a tibieza de governos em iniciar as medidas de combate e contenção do vírus tornam propício o surgimento dos inimigos das economias: a incerteza, a desconfiança, o descrédito e a insegurança de todos os participantes dos inúmeros elos entre produção, distribuição, acumulação e consumo. Desde líderes de grandes bancos e empresas, passando por médio e pequenos investidores sem experiência, aos humildes e batalhadores funcionários e trabalhadores que, na verdade, são os verdadeiros sustentáculos de todas as empresas, todos sofreremos as consequências dessa situação.
Esses inimigos são cruéis, pois, em pouco tempo – por medo, por ignorância, por ganância e outros motivos – promovem a desestabilização econômica. Como exemplo, o grave processo de queda das bolsas de valores, situação esta que irá minar a confiança da população e exigir dos governos atitudes que – supostamente – irão permitir a sobrevivência de empresas, de empregos, de continuação de negócios. Alguns países, por riqueza e desenvolvimento, tem recursos suficientes para tanto: EUA, China, Japão e a maioria dos países da Europa Ocidental. Outros, no entanto, não contam com essa estrutura, aí incluído o nosso querido Brasil.
Estando numa clara recessão, nosso país foi apanhado de surpresa em um momento político complicado por conta da irresponsabilidade de um presidente incompetente e imaturo que vem retardando medidas que possam, a médio e longo prazo, resolver os nossos problemas econômicos e financeiros. Já conseguimos, bem ou mal, a reforma da Previdência. Faltam, ainda, a Fiscal e a Tributária emperradas por interesses de alguns tentando manter seus privilégios; e a Administrativa tentando o quase impossível diálogo com as representações do alto funcionalismo público estatal que apoia os parlamentares para manter tratativas e interesses.
O Governo dispõe, parece-me, de algo como 10% do orçamento para investimentos em geral. Os demais 90% vão para a Educação – que pelo PISA de 2018 caímos no ranking em matemática e ciências e estamos estagnados há dez anos em leitura; e para a Saúde – que nesta pandemia tem mostrado o seu valor e qualidade – mas a maior parte é para sustentar essa infernal máquina estatal. Nesse cenário, como não ter incertezas e insegurança?
A meu ver, são estas as consequências diretas da pandemia no Brasil. Essas incertezas e consequências só serão minimizadas com a atitude clara, severa, séria, responsável de uma liderança política inconteste que o nosso Brasil, infelizmente, não tem e, aqui entre nós, nunca teve em toda a sua história. Outros países, como os EUA, não tem também. Porém, seu presidente atual, ao menos, foi suficiente capaz de entender que, se não assumisse uma força de liderança moral, não teria condições de ser reeleito. Ao menos, foi inteligente ou melhor assessorado. Parece que o nosso presidente passou a entender isso também.
Essa falta de liderança tem levado alguns parlamentares e ministros a atuarem de, certa forma, independentes ou sem apoio claro da presidência da República. Nisto, na luta contra a pandemia, ressalta-se a ação e atitude do Ministro da Saúde e os presidentes da Câmara e do Senado.
Em face disso, as atividades que serão direcionadas à tentativa de minimizar os efeitos da pandemia devem ser prioridade, ou seja, os parcos recursos disponíveis para o financiamento das operações econômicas devem ser alocados para novos hospitais, ampliação de leitos nas UTI’s , os serviços médicos e todas as suas atividades como pesquisas, tecnologias e suprimentos médicos, enfim, toda estrutura necessária para combater o vírus. Por outro lado, o governo, dada a grande incerteza e insegurança, terá que minimizar o prejuízo econômico da ausência de atividades com injeção de recursos financeiros ao mercado: pequenas e médias empresas, o transporte, a população de idosos, de carentes e afins.
Os investidores que se sentem prejudicados pela queda total das bolsas, embora sejam os primeiros a gerar incertezas e seguranças, tem certamente recursos para sobreviver. Por uma questão de tempo, é fato, o investimento na bolsa é, por excelência, de longo prazo. Portanto, é esperar o crescimento futuro das bolsas – que certamente retornará – para reparar prejuízos e, certamente, até lucrar com isso.
Com essa injeção no mercado, entende-se que a roda econômico-financeira do país recomece a rodar e, aos poucos, voltar ao normal. O problema será verificar se esses recursos serão suficientes e se as sérias consequências da pandemia, ainda não comentadas, serão tratadas e solucionadas e em quanto tempo.
É importante ressaltar os pontos de impacto na economia mundial.
Inicialmente, devemos considerar o impacto na mão-de-obra produtiva. Isto se reflete não só naquela atingida pela doença, mas a que deixa de trabalhar por medidas de prevenção com as quarentenas e os isolamentos. Todas necessárias a combater o vírus mas com consequências na redução da produção. Essa redução de mão-de-obra ocorre, inicialmente na China e se expande para outros países asiáticos, chega ao Oriente Médio e entra fortemente na Europa e, finalmente, demais continentes. Isso reflete seriamente na produção efetiva das fábricas de produtos, de insumos, de produções, de geração de commodities (minérios e agroprodutos) e por aí afora. A produção de bens se reduz diariamente em todas as grandes economias. Ao mesmo tempo, em função da globalização – malgrado esforços de Trump em contrário – empresas produtivas em cada grande economia dependem entre si: fornecimentos de insumos e peças para produção de seus produtos. Menos fornecimento de insumos, menos produtos, menos produção resultando na brutal queda da produtividade e sem abastecimento do mercado. Isso afeta toda a enorme variedade de importantes atividades que sustentam a economia. Desde o processo de transporte interno e externo, armazenamento, as cadeias de suprimentos e fornecimentos, as atividades financeiras, de crédito, as cadeias de distribuição, as atividades do comércio, processos de definição de custos e preços, as consequências à economia de cada país: recessão, inflação, juros, investimentos e que tais e, finalmente, ao seguro.
O que tudo isso vai, de fato, impactar no mercado de seguros mundial e no Brasil? Sinceramente, apesar do meu tradicional amor à realidade – que alguns chamam de pessimismo – me parece que o nosso mercado irá adaptar-se a essa traumática adversidade causada pelo Coronavírus. Quer dizer, dependendo da evolução dessa epidemia no Brasil, da forma de combate contínua a ela, do nosso fôlego para aguentar, da liderança moral para contrapô-la e recursos para tanto.
Mas como temos a grande vantagem de Deus ser brasileiro, creio que lá para setembro ou outubro de 2020, já venhamos a sentir que o Coronavírus estará vencido.
O que, durante a pandemia, irá afetar nosso mercado? Os seguintes aspectos me parecem importantes a considerar:
Primeiro: a redução das atividades econômicas. Embora o governo venha sinalizando com medidas relativas à privatização, as parcerias em projetos de infraestrutura, investimentos diretos em projetos de infraestrutura , o envio e aprovação das reformas no Congresso, apoio considerável ao seguimento agropecuário e, ainda, como acessório a essas sinalizações, a aprovação pelo Congresso da nova lei de licitação. A meu ver, essas sinalizações não serão concretizadas antes de Setembro / Outubro deste ano.
Essa falta de atividade econômica irá manter o seguro na situação atual, salvo os seguros de transporte em geral, de garantia em geral. Mantém-se os seguros de Garantia Judicial e certas coberturas de Responsabilidade Civil.
Os demais seguros deverão ser mantidos, tais como: danos materiais corporativos, responsabilidade civil Geral, Erros & Omissões, D&O e que tais, eventualmente no mesmo nível de 2019.
Deverão ser reduzidos os seguros massificáveis: residencial, pequenas empresas e, certamente, automóvel. Os seguros Saúde e Vida deverão ter provável aumento de demanda.
Embora os valores em risco e importâncias seguradas tenham a tendência de prevalecer aos valores atuais, devemos considerar um eventual aumento do preço do seguro. Tendo em vista que os grandes mercados resseguradores – locais e internacionais – estão no processo claro de ‘hard market’, reduzirão as capacidades, ou melhor, a aceitação das colocações de resseguros refletirá nos preços dos seguros locais, principalmente, empresariais.
Segundo: eventualmente, além do impacto da pandemia, devemos considerar o período de transição em que se encontra o mercado. De um lado temos a SUSEP e do outro a ala mais conservadora das seguradoras. Apesar de eventualmente bem intencionada, a Superintendência vem agindo, a meu ver, um tanto atabalhoadamente em sua tentativa de introduzir medidas liberais ante o comodismo conservador do mercado segurador, porém, se omitindo nos pontos principais: liberação para regulação dos produtos e preços das seguradoras, a sua intempestiva ação na intermediação técnica de seguros e a procura de adoção de medidas na produção que é, hipocritamente, exigida pela ala mais conservadora das seguradoras. Embora, os corretores representem o elo mais fraco do mercado, é inegável que enfrentaram com sucesso, no passado, batalhas na sua trajetória vitoriosa. Certamente, irão reagir positivamente e com sabedoria, essas imposições do CNSP e da SUSEP.
Terceiro: é óbvio que o mercado em geral irá entrar em uma terrível recessão causada pela pandemia. É evidente, ainda, que o Brasil irá ser afetado particularmente, face à condição de estagnação econômica em que se encontra. A pandemia, ao que tudo indica, deverá se extinguir aos poucos no final de 2020. Nesse período, independente de medidas econômico-financeiras que o país possa adotar, parece-me que irá trazer falências, fechamento de empresas, falta de crédito, desemprego profundo, falta de produtos e serviços, problemas nos transportes, falta de investimento e todas as situações maléficas que resultam de uma súbita parada na economia.
Quanto tempo levará o mundo e, particularmente, o Brasil para retomar suas atividades normais. No horrível desastre econômico mundial dos anos 30, os EUA e parte dos países ricos da Europa Ocidental só começaram a sair da crítica situação mediante o lançamento do programa “New Deal’ do então presidente Roosevelt que alavancou a economia mediante forte abertura de empregos e de investimento em infraestrutura: estradas, obras de arte, ferrovias, portos, canalização de rios, transporte fluvial e por aí afora, no que foi seguido pelas potencias europeias como Alemanha, Reino Unido, França e Itália.
Será que o Brasil terá uma liderança política capaz de criar uma operação como a do competente presidente americano Roosevelt? Teremos uma elite disposta a investir e atuar em um processo semelhante? Teremos um povo suficientemente capaz para entender a importância dessa luta? Teremos condições de eleger políticos que tenham em mente tão somente os interesses do povo e do país? Grandes incógnitas, porém, acredito que sim. O mundo e o Brasil terão que enfrentar o retorno da normalidade da economia mundial.
Por último, é importante aguardar essa recuperação com calma, com lavor, com esperança, nós brasileiros, de que o mundo atue de forma diferente após essa pandemia. Talvez, surja uma tendência maior para a tolerância entre nações, povos, religiões e ideologias mas, sobretudo, entre as pessoas. Quem sabe se o ódio irracional, o egoísmo nacionalista e o populismo irresponsável das extremas direita e esquerda não se recolham às suas insignificâncias, não se envergonhem de atuar tão negativamente e, portanto, os ‘america first’ não se torne ‘world first’, ou melhor, ‘the people first’? Isso, certamente, poderia ajudar à recuperação da economia e bem estar social mundial e, por consequência, a economia e a sociedade brasileira e, finalmente, ao mercado de seguros no Brasil, segmento importante ao nosso desenvolvimento.