Em conversa com os colaboradores da THB Corretora de Seguros, surgiu a ideia deste artigo: discutir os grandes desafios do mercado de seguros. Todas as questões, todos os problemas, certamente afetam o nosso futuro de uma forma ou outra por mais aleatórios que possam ser.
Assim, parece-me, que as situações e questões mundiais e atuais do Brasil interessam o mercado de seguros. No contexto econômico, é o último segmento a sofrer as consequências de uma recessão e o último a iniciar o processo de recuperação geral. Até o presente momento, pouco sentimos a estagnação econômica no Brasil, porém, devemos analisar com cuidado as questões e problemas que possam prejudicar nosso desenvolvimento, e tentar minimizar os sérios impactos que possamos vir a sofrer.
A seguir, a nosso ver, os pontos que impactam no mercado de forma direta ou indiretamente:
- Internacionais
- Ameaças à democracia: nacionalismo e populismo ignorantes fortalecendo o retorno do fascismo.
- Crescimento do fanatismo religioso caracterizada pela devoção incondicional, exaltada e completamente isenta de espírito crítico.
- Transformação de valores em um processo longo e doloroso: emancipação feminina, as questões de gênero, na organização social.
- A introdução do ódio exacerbado e do preconceito: final da empatia e do respeito mútuo.
- Avanço tecnológico: a disrupção através da obsolescência precoce.
- O peso das desavenças comerciais: USA x China. Os efeitos danosos da aplicação da lei do mais forte e de ações de chantagem nas relações internacionais e suas consequências.
- O empoderamento da ignorância e vulgaridade contra fatos científicos como mudanças climáticas e a crença dos terraplanistas e mais as ‘fake news’.
- A intolerância e o racismo gerando crises como as dos refugiados e no Oriente Médio.
- Brasil, um país em situação crítica
- Os problemas econômicos, políticos e sociais.
- Desemprego crônico: superior a 12 milhões de pessoas
- Analfabetismo funcional: superior a 25 milhões de pessoas
- Educação e Saúde com falhas crônicas evidentes desde a falta e qualidade de professores e médicos, do próprio sistema de ensino, até problemas na administração, fluxo de recursos e a corrupção.
- Reformas essenciais: algumas em processo outras na esperança de serem implantadas: da Previdência, Tributárias e Fiscal, Política e outras importantes como Jurídica e até Institucional. A tentativa de acabar com a letargia da Indústria e do interesse de Investidores.
- Novamente, o fanatismo religioso, aqui representada pelos evangélicos se imiscuindo nos assuntos de Estado e de Governo.
- O peso da corrupção endêmica: a tentativa de eliminar a Lava-Jato.
Considerados os pontos acima, atrevo-me a apresentar a minha opinião sobre o nosso mercado, as questões negativas, os prováveis aspectos positivos e a evolução a médio e longo prazos, dependentes, é óbvio, das consequências dos fatos mencionados nos itens 1 e 2 acima.
- O mercado no Brasil
Dada a situação econômica do Brasil, praticamente uma recessão, impactada pela conjuntura internacional, parece-me que temos mantido um crescimento satisfatório tanto no seguro quanto resseguro. Temos uma redução significativa nos seguros de Risco de Engenharia, Riscos Patrimoniais e até de Automóvel.
- Pontos negativos
- Qualificação de mão de obra no setor de seguros com maior incidências nos setores de subscrição e de sinistros.
- Seguradoras demonstrando pouco apetite à aceitação de riscos. Seguradoras com matrizes no exterior adotam listagem negativa a certos riscos e não permitem qualquer análise de suas qualidades resultando em simples negativa à aceitação. O mesmo modelo vem sendo seguido por seguradores brasileiros. Dificuldade crescente na colocação de riscos, com bom sistema de controle e experiencia de sinistralidade adequada, simplesmente, por constarem de uma lista efetuada por quem não conhece o que está negando ou que receia a situação política e econômica brasileira.
- Concorrência predatória por parte de seguradoras e corretores de seguro onde o critério determinante é preços, prevalecendo a lei do mais forte.
- A ignorância sobre seguros em geral e suas particularidades pelos consumidores ainda persiste, apesar das ações positivas das Federações e Sindicatos de Seguradores e Corretores, das instituições como ABGR e APTS e, até mesmo, dos grandes corretores de seguros.
- As novas tecnologias, e seus excessos de modismos, nem sempre adaptáveis aos seguros empresariais, inclusive por conta da sua obsolescência precoce o que prejudica sensivelmente os investimentos necessários, a gama de ações, medidas e treinamentos afins. A ênfase é ‘vender’ sem a prestação de serviços.
- Pontos positivos
- Preparação profissional e conceitos básicos de atuação. Neste ponto, os corretores profissionais de seguro estão, a meu ver, bem mais avançados que as seguradoras no Brasil. A adequação das suas funções está se transformando celeremente em consultoria especializada em gerenciamento de risco, empresarial ou de riscos puros e na prestação ampla de serviços desde a elaboração de programas de seguros e sua colocação, administração constante até à regulação de sinistros de forma totalmente independente das seguradoras, representando o cliente junto ao mercado. Na prestação de serviços ocorre a criação de Equipes altamente especializadas em cada área e aptos à tratativa de qualquer tipo de risco e sua colocação.
- A abertura de mercado: a esperança de que a nova Superintendente da SUSEP, por sua postura inegavelmente liberal, proceda a abertura de mercado mantendo, obviamente, a supervisão operacional do mercado, porém, proporcionando às seguradoras e corretoras profissionais de seguro liberdade para elaboração de produtos e serviços dentro de um processo de responsável concorrência.
- A excelência na qualificação técnica do pessoal do mercado. Além dos tradicionais cursos da ENS e de algumas Universidades no ensino de Seguros, estamos assistindo a inciativa de entidades idôneas como a ABGR e ALARYS no ERM – Enterprise Risk Management, do ressurgimento da APTS e novas instituições sérias como a recente do mestre Walter Polido, em qualificar o mercado de trabalho.
- As perspectivas positivas à evolução do mercado condicionadas às reformas e, certamente, a longo prazo:
- A realização das reformas
- A volta dos investimentos em infraestrutura
- A privatização das empresas estatais
- As descobertas de gás no Nordeste e expansão do Pré-Sal
- A abertura do mercado brasileiro acabando com a dependência das empresas nacionais na proteção e subsídio do Estado levando à concorrência responsável entre todos e o estímulo ao investimento.
- A introdução segura da desburocratização já em fase final, porém, de forma responsável e não acatando as normas do capitalismo selvagem.
- A introdução segura e responsável de novas tecnologias e modernização de conceitos e ações.
- Pontos negativos
Finalizo, assim, com a confiança de que essas questões se transformem em realidade a médio ou longo prazo para termos um belo mercado de seguros e, sobretudo, um país melhor malgrado os problemas e situações que por ora passamos.
São Paulo, 23 Agosto 2019
Paulo Leão de Moura Jr.