Estamos presenciando um momento estranho em nosso mercado. Seguradoras com atuação tradicional em riscos empresariais e corporativos vendendo suas carteiras e outras mantendo exclusivamente os grandes riscos. Algumas vendendo, até mesmo, carteiras médias e pequenas compostas por seguros empresariais. Outras preferindo operar tão somente em riscos financeiros, em garantias, em riscos de Responsabilidade Civil tais como D&O, Profissional E&O, M&A e diversas outras.

Enfim, as dificuldade de colocação e transferência de riscos no Brasil começam a gerar grandes problemas aos segurados e aos corretores de seguro profissionais para colocação de seguros. Quer me parecer que o mercado de seguros começa a sentir os efeitos da grande crise econômica que vem afligindo o Brasil há alguns anos.

Por outro lado, contrariando essa impressão, surgem tênues indícios de programas e intenções altamente salutares que, certamente, irão influenciar no desenvolvimento da nossa economia e, por consequência, na modernização e no crescimento do nosso mercado de seguros, malgrado a médio e longo prazo, como sói ser as coisas brasileiras.

Quais seriam esses importantes indícios, a saber:

  • Apesar das grandes dificuldades por conta da insensatez de inúmeros políticos para solucionar os problemas da melhor forma possível, tudo indica que reformas serão feitas a relativo curto prazo como, entre outras, a reforma previdenciária, a reforma tributária e, eventualmente, a reforma política. As consequências benéficas poderão ajudar a dar um tranco no empresariado brasileiro para que saiam dessa letargia e voltem a investir em novos projetos como infraestrutura, em suas próprias empresas, em tecnologia de ponta, no aprimoramento técnico, em produtividade, enfim, em administração correta e moderna da economia.
  • A nova liderança da SUSEP - Sra. Solange Vieira - que aparentemente pretende uma postura liberal em contraponto à rígida regulação atual, já anunciou medidas que certamente irão permitir ao nosso mercado iniciar um processo de concorrência limpa, livre, técnica e séria, se aprovada. Assim, sem essa agressiva predação atual, poderemos oferecer aos segurados serviços e produtos realmente adequados e, ao mesmo tempo, permitir uma exata transparência ao processo do seguro e do resseguro.
  • A intenção do governo atual - independente das patacoadas e trapalhadas a que estamos assistindo nestes últimos meses - de investir na privatização e na infraestrutura irá, certamente, impulsionar as atividades do nosso mercado que deverá estar apto a proporcionar os seguros adequados.
  • Atentando ao mote de que Deus é brasileiro, notícias da grande descoberta de depósitos de gás no Nordeste permitirão a longo prazo que indústrias e empresas obtenham energia mais barata para desenvolvimento de seus produtos. Acresce a isso, a célere recuperação da Petrobras e mudanças no seu foco estratégico para o desenvolvimento na produção de petróleo e concessão de royalties aos estados e municípios produtores. Esses recursos, se bem usados, poderão proporcionar novos investimentos em infraestrutura também.
  • Outros aspectos a considerar são adoção de critérios de governança e ‘compliance’ que passaram a ser adotados tanto pela iniciativa privada quanto os afazeres públicos consequentes das operações da Lava-jato’ e que podem determinar uma administração técnica e honesta dos recursos disponíveis para investimentos em geral.
  • A necessária queda dos juros e a tão propalada reforma financeira, em especial o oligopólio dos bancos estatais e privados com seus fantásticos custos para minorar a inadimplência do cliente sem emprego ou mal remunerado e por conta do alto custo do dinheiro no Brasil está formado mais um círculo vicioso entre inúmeros outros que afligem nosso país.

Considerando esses aspectos como verdadeiros e possíveis, mesmo que a médio e longo prazo e mais uma substancial dose de otimismo – lembrando o que estamos presenciando nestes primeiros meses de governo – temos uma condição favorável ao nosso mercado de seguros com a volta de seguros importantes como o Risco de Engenharia, os sempre presentes seguros de Responsabilidade Civil, o de Transporte e todos os outros aplicáveis a um país em desenvolvimento.

Assim, é realmente estranho que o mercado, sabedor desses aspectos, opere em sentido contrário às expectativas. A meu ver, não é o momento de estagnação e retirada. É justamente o momento de voltarmos a estudar a modernização e adequação do seguros no Brasil; de abrir o apetite do mercado segurador a assumir riscos; a serem de fato seguradores; a reavaliar o texto de cláusulas e condições de todos os seguros com coragem necessária para acabar com dubiedades e contradições nos textos que tanto prejudicam as negociações da colocação dos seguros e, principalmente, as regulações de sinistros.

A meu ver, primeiro, é necessário que nosso mercado apoie incondicionalmente as intenções de abertura da nova superintendente da SUSEP. A segunda medida seria a reunião produtiva e eficiente dos principais representantes do mercado de seguros e resseguros – Seguradoras, Resseguradoras, Corretores de Seguros profissionais, representantes dos segurados como ABGR APTS e outras Federações, SUSEP – para iniciar o planejamento do processo a ser adotado para a modernização dos seguros no Brasil, desde a nova lei de Seguros até a forma operacional de cada seguro, suas condições e propósitos, inclusive o reconhecimento tácito de que a evolução tecnológica do 5G irá impactar seriamente na operações e formas de seguros futuros.

 

São Paulo, 1º de julho de 2019